Endocrinologista e cooperada da Unimed-BH, Flávia Coimbra, comenta sobre os avanços da Medicina que estão trazendo mais qualidade de vida para os portadores da doença
O Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que a população brasileira ultrapassou 203 milhões de pessoas, sendo que aproximadamente 20 milhões vivem com diabetes. A pesquisa Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, que monitora os principais fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas 27 capitais brasileiras, aponta que 10,2% dos participantes relataram ter sido diagnosticados com diabetes. Esses dados, segundo especialistas, reforçam a urgência de novas abordagens para o tratamento da doença.
De acordo com a endocrinologista e cooperada da Unimed-BH, Flávia Coimbra, estudos apresentados no mais recente Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, promovido em outubro de 2024, mostrou otimismo em relação aos avanços dos medicamentos para doença. Durante o evento, foram apresentadas inovações e tecnologias para tratamentos, com destaque para sistemas de monitoramento contínuo de glicose, novos hipoglicemiantes e insulinas de ação prolongada. “Estou me referindo aos análogos de GLP-1 e aos análogos combinados de GLP-1, GIP e glucagon. Esses hormônios, produzidos pelo intestino e pâncreas, têm mostrado resultados impressionantes no controle do diabetes e do peso”, declarou. A especialista explica que os análogos de GLP-1 ajudam a aumentar a secreção de insulina e a reduzir a liberação de glucagon, enquanto as combinações visam otimizar o controle glicêmico e a auxiliar na perda de peso, sendo promissoras também para a redução do risco cardiovascular em pacientes com obesidade.
Os análogos de GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) são medicamentos que imitam a ação desse hormônio, que é produzido no intestino e desempenha um papel importante no controle da glicose e do apetite. Eles ajudam a aumentar a secreção de insulina, a reduzir a liberação de glucagon (um hormônio que aumenta a glicose no sangue) e a retardar o esvaziamento gástrico, o que pode levar à redução do apetite e ao controle do peso. Já os análogos combinados de GLP-1, GIP (peptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e glucagon, por sua vez, são uma nova classe de medicamentos que combinam os efeitos desses três hormônios. Essa combinação visa otimizar o controle glicêmico e a perda de peso, aproveitando as diferentes ações dos hormônios para melhorar os resultados no tratamento de diabetes tipo 2 e na obesidade.
Tecnologia e Inteligência Artificial a favor do paciente
A endocrinologista explica também como a tecnologia está revolucionando o manejo do diabetes. Segundo Flávia, novos dispositivos, entre eles os monitores contínuos de glicose (MCG), permitem que os pacientes acompanhem seus níveis de açúcar em tempo real, aumentando a autonomia e a capacidade de tomar decisões sobre sua saúde com base em dados. Coimbra destacou ainda os novos monitores que não exigem punção constante. “Trata-se de um sensor colocado sobre a pele que lê a glicemia pelo celular, com avaliações contínuas via bluetooth”, afirma. Além disso, foram apresentadas bombas de insulina que realizam infusões contínuas, especialmente para diabetes tipo 1, ajustando automaticamente a liberação de insulina conforme a necessidade do paciente.
Necessidade de investimento
Um recente estudo, publicado pela International Diabetes Federation, mostrou que o impacto econômico da doença no Brasil pode gerar custos de R$ 83 bilhões por ano no país. Com o avanço contínuo da tecnologia, espera-se que o manejo do diabetes se torne cada vez mais eficiente, impactando positivamente a vida de milhões de brasileiros.
Para Flávia Coimbra, um dos principais desafios discutidos no Congresso foi como fazer com que as tecnologias e medicamentos de ponta se tornem mais acessíveis aos pacientes. “Sabemos que essas opções mais recentes geralmente têm um custo elevado. Portanto, é fundamental explorar maneiras de otimizar o tratamento, especialmente no caso do diabetes, uma doença extremamente comum”, alerta.
Assim, ela acredita que medidas devem ser adotadas para universalizar o acesso, permitindo que mais pessoas se beneficiem dessas inovações. A endocrinologista também reforça que o tratamento do diabetes deve ser amplamente difundido, não apenas entre especialistas, mas, sobretudo, entre médicos clínicos, que costumam ser a primeira linha de atendimento para esses pacientes. “Por isso, é fundamental que nós, médicos, estejamos sempre atentos às novidades no tratamento da doença”, enfatiza.